Eu corri em Nova York. Mas vou precisar voltar!

POR ANDREA FUNK

“O caminho é longo. Mas você chega lá”. Este foi o meu mantra em boa parte dos 42.195m do percursofoto2ny da Maratona de Nova York, que eu corri no último dia 01 de novembro. Esta frase eu ouvi do meu pai em sonho há alguns meses e me ajudou (e muito) a completar a prova em demoradas 5:07. Isso mesmo: cinco horas e sete minutos correndo!!

Não foi o resultado que eu esperava, não atingi o meu objetivo (treinei para tentar fechar entre 4:30 e 4:40), senti uma lesão na metade da prova, corri com dor, tive que andar bastante nas subidas (e como tinham subidas!), mas nada tira o orgulho de ter completado a maior maratona do mundo, que contou com a participação de mais de 50 mil corredores de 130 países. Foi uma experiência extraordinária em uma cidade que eu amo. Tudo nesta prova é mega, para milhares de pessoas, e tudo funciona muito bem – uma organização que para mim foi impecável – da Expo até o “Day after”.

Para começar, na quinta-feira, fui para a Expo para a retirada do kit. Eu já estava na cidade no primeiro dia, então optei por ir logo, assim já dava uma baixada na ansiedade. E aí já começa a emoção depois de meses de preparação. Os voluntários são todos super simpáticos, falam entusiasmados que a prova é uma festa e para colocar o nome na camiseta que o público incentiva, e a gente já entra ainda mais no clima.43

Na Expo fiquei rodando quase cinco horas (este número me perseguiu lá), para loucura da Luci, minha amiga, que me acompanhou pacientemente (depois da segunda hora claro que ela arrumou um lugar para sentar). E por mais que eu já conhecesse os produtos oficiais e já soubesse o que eu queria (entrava todo dia no site da prova) – tênis de edição comemorativa, jaqueta, camiseta, etc etc etc…… você fica ali parecendo criança em um parque de diversões. Tudo é lindo e maravilhoso e dá vontade de comprar tudo – mesmo com o dólar a R$ 4,00.

No sábado, véspera da prova, participei do Dash to the Finish Line, uma prova de 5k que tem um caráter mais de confraternização, uma espécie de esquenta. A saída foi em frente à sede da ONU e a chegada no Central Park – exatamente na linha de chegada da Maratona. Era uma prévia do grande dia. Saí cedo do hotel e fui encontrar amigos da assessoria esportiva na qual treino (Adriano Bastos) para irmos juntos. Eu, Renata Bastos, Alexandre Vinagre e Teresa aproveitamos a caminhada até a largada para fotos na Times Square às 7h da manhã. Foram 5k tranquilos pelas ruas de Manhattan, que fiz em tranquilos 35 min – substituiu o tradicional trote de 30 minutos da véspera da prova.

30Aí eu já deveria ter imaginado que as coisas no dia seguinte não iriam tão bem. As pernas estavam soltas, mas senti meu pé direito incomodando um pouco (também senti algo anormal no meu último longo de 22k feito no Guarujá), mas achei que fosse apenas reflexo do grande volume de treinos feitos nos últimos três meses.

No final da tarde, já tinha convencido a Luci a irmos no jantar oficial de massas – é normal a organização promover este jantar como forma de confraternização. Esta foi a minha terceira maratona internacional e nunca tinha ido a nenhum jantar assim, então tinha curiosidade de ver como era – mas confesso que acho que foi o primeiro e o último também (rsrsrs). Chegamos no Central Park por volta das 17h, seguimos por uma das entradas de paralelepípedos bem na altura do Tavern on the Green, restaurante famoso por lá. Ao lado foi montada uma grande estrutura e entre os dois havia mesas compridas com voluntários que te serviam como se você estivesse num acampamento….. Você pegava um prato de isopor com tampa (do estilo Box to the dog), talheres de plástico e ia passando…. salada?….plaft!…. Penne ao molho de queijo? Ploft…. bem ao lado (e quase em cima) da salada…. mais um passo e ploft! lasanha com molho vermelho… kkkk …… e ainda tinha pão e podia pegar uma maçã de sobremesa. Para acompanhar, água natural ou com gás.

Depois você entrava na grande tenda e ia procurar lugar para sentar nas mesas também enormes, como num refeitório. Para animar, ao fundo, um grande telão com vídeos sobre a maratona, claro, com percurso e curiosidades. E muitas música. O clima era agradável, as pessoas tranquilas e felizes. Valeu a experiência – obrigada, Luci pela paciência e companhia – mas na próxima o jantar de massas será mesmo em algum restaurante com pratos de vidro e talhares normais.

Saímos do Central Park e andamos até o Columbus Circle para pegar o metrô e ir para hotel descansar. Pelo menos para colocar as pernas para o alto, porque é difícil dormir na véspera, parece que você fica elétrica, desperta. Claro que como jantamos cedo eu achei que ia ter fome (porque sempre tenho fome!), então demos uma passada básica no Mc Donalds ao lado do hotel e comprei um hambúrguer que, claro, não foi desperdiçado.

Antes disso, à tarde, eu já tinha separado tudo o que precisaria para a prova: camiseta, top, bermuda, 27cinta de hidratação (que usei mais por conta dos Géis da carboidratos, pois a hidratação na prova é fantástica, água e gatorade a cada milha), meias, tênis, vaselina (se não passo na parte do elástico do top chego a ficar com feridas), mp3 (porque uma música ajuda a dar o ritmo), óculos de sol, buff (lenço) pois poderia ventar e esfriar. Aí foi colocar o despertados para às 4h30, pois às 6h eu deveria estar em frente à Biblioteca Pública de Nova York para pegar o ônibus da organização que levaria os maratonistas até a largada.

Saí do hotel às 5h30 – peguei um café e pedi um taxi. Uma corredora mexicana – Lulu – estava no mesmo hotel e dividimos a corrida. Em 5 minutos estávamos no local. Mais um exemplo de super organização. Tudo escuro, às 6h da manhã, e você entrava em filas, ia caminhando até entrar no ônibus – que iam chegando à medida que outros eram lotados e já partiam. Momento de emoção: a vista do Chrysler Building – para mim o prédio mais lindo da Cidade. Uma hora de percurso até a largada.

Ao meu lado sentou uma corredora canadense – Cathy – falamos um pouco das experiências – ela correria pela segunda vez em NY, estava com outras duas amigas; perguntei de boas provas no Canadá, ela perguntou do Brasil. A gente acaba virando uma grande tribo.

No percurso, uns comiam – maçã, banana, mini pretzels, barras de proteínas…. outros dormiam, outros falavam, outros apenas olhavam pela janela, concentrados. Me emocionei de novo ao passar pela Brooklyn Bridge…… depois pegamos um túnel e continuamos.

Depois de uma hora chegamos nas Villages. Ali os corredores eram divididos de acordo com a ordem de suas largadas – que chamam de corrals (currais) e ondas. Isso é definido pelo tempo previsto para terminar a prova que você menciona ao fazer a sua inscrição. Eu largaria do Corral C – Orange – Wave 2.

Logo ao descer do ônibus você passa pela vistoria. Como optei por não levar bagagem, apenas o saco da organização com o que precisaria até a largada, é mais rápido para entrar. Aí fotos

foto 18

na chegada com a Verrazano Bridge ao fundo e você vai para um grande pátio. Ali, esperaria as próximas 3 horas antes de largar, torcendo para não chover e não esfriar. Fui logo atrás de um chocolate quente e uma bagel oferecidos pela organização porque estava com fome e busquei um lugar para sentar. Parecia um acampamento de sem-teto….kkkkk…. você estende uma coberta, uma revista ou senta no chão mesmo. Tomei o meu café ao lado de um italiano – Pietro – e de uma alemã, que não me lembro o nome. Depois, estiquei meu cobertorzinho made in avião (kkkk) e deitei um pouco para esticar as costas. Até que o tempo passou rápido e quando vi já estavam chamando o meu corral.

Enquanto aguardava a liberação da minha entrada, a elite já estava posicionada em cima da ponte e helicópteros sobrevoavam o local. Hino nacional dos Estados Unidos da América, tiro de canhão e a emblemática New York, New York de Frank Sinatra em alto e bom som…. mais uma emoção – a minha hora também estava chegando. Parecia uma eternidade, queria correr logo.

Quando liberaram a entrada do meu grupo achei que o tempo estava começando a ficar mais fechado – aliás este foi outro ponto super positivo: não choveu, ventava pouco e não estava frio – na hora da minha largada acho que estava entre 12 e 14 graus. Bom, chegou finalmente a hora. Tirei a calça de moletom que estava por cima da bermuda e a blusa de lã extra e larguei nas caixas para doação. Aí começou a caminhada até a ponte. Mais alguns minutos e foi a nossa vez de ouvir o hino, o tiro de canhão e New York, New York. Você começa sem quase conseguir correr, o ritmo é bem lento, deu até para fazer foto. Uma multidão partindo por sobre a ponte, você sente uma energia no ar, a ansiedade e expectativa geral e é bom porque a multidão impede que você largue desembestado… correndo que nem louco.

A Verrazano Bridge (8a. maior ponte suspensa do mundo, que liga Staten island ao Brooklyn), de onde largamos, tem pouco mais de 4k, e só no final dela que realmente você consegue começar a correr – aí já tem público e tem que segurar o ritmo também. Estava me sentindo muito bem, inteira, e consegui manter o meu pace dentro do previsto durante todo o trajeto pelo Brooklyn. No km 16 senti um pouco de tontura, estava com calor, tirei o buff do pescoço e segui, me hidratando a cada posto, suplementando nos momentos certos. Até aí, tudo bem. Mas chegou o km 18 e com ele uma fisgada forte na panturrilha direita. Eu fui preparada para enfrentar subidas, mas não imaginava que fossem tantas e por tanto tempo…… Tentei não prestar atenção na perna e fui em frente, mas na marca da meia maratona comecei a sentir o pé direito. O que era um incômodo na articulação da sola, passou a dar uma sensação, no km 30, de que enfiavam uma faca num ponto específico…. no km 32 passando por uma ponte eu achei que não conseguiria terminar e…imagina só….. chorei feito criança….. chorava e andava, porque não conseguia mais correr nas subidas. Eu pensava: não acredito….. não acredito…. eu treinei tanto… eu estava tão bem….. não vou fazer o tempo que eu queria…… e passa um monte de coisas na sua cabeça, tudo muito rápido…..

Enquanto andava (e chorava….kkkk) saquei o celular que estava na cinta de hidratação para fotos ocasionais e liguei para a Luci que estaria na linha de chegada me esperando, dizendo: estou com dor, tenho que andar….. vou demorar…. não se preocupe….. imagina só isso??? Kkkkk e também escrevi para a minha irmã Adriane Lafemina, que também é minha personal….. eu estava arrasada naquele momento….. precisava de apoio e elas disseram: vá em frente…. ande se precisar….você vai conseguir!

Neste momento, não era mais questão de fazer o tempo que eu pretendia, era de chegar no final…… Aí falei para mim mesma: eu vou terminar, não importa o tempo, eu vou em frente, o caminho é longo, mas você chega lá. Não foi fácil, e nunca é, mas você arruma forças sei lá de onde….. deixei a frustração em relação ao tempo de lado e foquei na linha de chegada. Depois que você passa pela Madyson Bridge acha que tudo vai ser mais fácil, afinal, será a última ponte…. mas….. pega a First Avenue que é um retão que vai longe a perder de vista e toda em subida…. leve, mas sempre subindo…. e meu pé só doía na subida…..

Enfim, fui como deu….correndo, caminhando, correndo…… aí você já tem público o tempo todo, depois já passa pela lateral do Central Park até quase a altura da Columbus Circle e entra no Central Park (eba, uma parte com muitas descidas). Embalada pelas folhas amareladas do outono eu corri estas duas últimas milhas muito feliz, fiz pose de aviãozinho para um fotografo no km 40, saquei a minha bandeirinha do Brasil e prendi na cinta, me emocionei (de novo) quando alguém gritou ‘Vai Brasil’ no km 41,5 e cruzei a linha de chegada correndo e de braços para cima (né, Dri?) vibrando muito por ter tido a coragem e a determinação para chegar até ali. Recebi a minha medalha e, claro! Chorei de novo! Afinal, tinha conseguido!

Ah, só que não acabou aí….. você acha que pegou a sua medalha e finish?? Tive que andar mais quase uma milha (1,6km) para pegar o poncho (fiz a opção por não levar bagagem, então eles dão o poncho azul para você se aquecer). E depois mais de um km para encontrar a Luci que me esperava na letra “A” do Reunion Area (claro que o A estava do lado oposto de onde eu estava)….. ou seja, depois dos 42.195m foram mais uns 3,5km andando até chegar ao metrô…. e às suas escadas…. que não foram nada fáceis de enfrentar.

O que posso dizer é valeu cada treino feito, cada km rodado, cada sessão de musculação e treino funcional, cada treino na piscina. Correr uma maratona é uma experiência fantástica. Espero um dia poder voltar a correr em Nova York e, quem sabe, fechar a prova dentro do meu objetivo – seria felicidade em dobro!

Obrigada a todos os que me apoiaram na realização deste sonho que foi correr em Nova York: Luci Mello, minha mãe (Beatriz), minha irmã Luciane, aos sobrinhos Dereck e Pietra, meus personais Adriane e Claudio Lafemina (vocês me fizeram mais forte!), aos meus treinadores Adriano e Renata Bastos; Fabiane Hukuda, minha massoterapeuta e acupunturista; Probiótica – a suplementação nos treinos e prova é fundamental; aos meus amigos do treino das Seis – em especial Renata e Ana (estamos juntas na Disney!); Elo e Zete, pela torcida  de sempre! aos amigos do Beach Tennis – point da Enseada e todos os amigos que acompanharam a minha preparação, curtiram meus post nas mídias sociais e me incentivaram – valeu muito, pessoal – vocês não sabem o quanto vale uma palavra de apoio!!!

ANDREA FUNK é jornalista e empresária – sócia-diretora da Communica Brasil (www.communicabrasil.com.br). Corre há 10 anos.

Instagram: andreafunk10

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