35kg a menos, muita determinação e agora Ultramaratonista

A corrida transformou a vida da professora Vanessa Borgonovi, 39 anos, mãe de duas filhas. Ela começou a correr em  2014 – na época, estava com 110kg – após alguns meses de treinamento começou a perder peso, resgatar sua autoestima, se redescobrir como mulher. E na última semana, a corrida foi responsável por mais um virada na vida da corredora, que realizou o sonho e agora é ultramaratonista – ela participou da Ultramaratona Maresias Bertioga (MB) – 75K solo, fechando a prova em 13 horas. Ela conta como iniciou na prática da corrida, como sua vida mudou, as amizades que fez correndo, como foi a preparação para MB e quais serão os próximos desafios.

Go Running (GR) – Como a corrida entrou em sua vida? Quando e por que começou a correr?

Vanessa Borgonovi – A corrida entrou em minha vida no ano de 2014, graças a duas amigas que me inscreveram em uma prova feminina de 5k. Na época eu tinha 110kg. Nesta corrida mesmo mais andando do que correndo, me encantei com a garra, com a alegria e com o clima. Cruzei a linha de chegada com a certeza que não iria mais parar.

A partir daí fui em busca de um personal para me ajudar nos treinos. Alguns meses depois me indicaram algumas assessorias próprias para corrida que seria mais eficaz do que o meu treino indoor com o personal. Foi ai que comecei a perceber as mudanças em meu corpo e a qualidade de vida que estava ganhando.

 

GR – O que mudou na sua vida com a corrida?

Vanessa – Primeiramente minha qualidade de vida, depois minha autoestima. Em 5 meses de treinamento eu consegui encarar um espelho de frente, recomecei a resgatar minha autoestima e a me redescobrir como mulher.

Dos 110kg cheguei aos 75kg e a meta é chegar nos 68kg, peso que eu mantinha até engravidar.

Sem contar muitas amizades! Correr embora é um esporte que depende somente de nós mesmos, neste período até hoje, conheci muita gente, muitas histórias. Ganhei grandes amigos e parceiros!

 

GR – No ano passado você fez a sua primeira maratona – como foi este desafio.

Vanessa – Foi sensacional! Era uma meta que tinha, não tinha pretensão de fazer tempo. Era completar e chegar feliz!

Os planos seriam para fazer esta primeira marat ona em NY, porém, devido a alguns problemas pessoais não pude realizar. Planos mudados e não adiados, lá fui eu fazer uma marata pelas ruas de nossa cidade de SP.

Os treinos foram cansativos e como sabia que eu seria da “turma do fundão”, realizei vários treinos na esteira para trabalhar minha cabeça, o que deu muito certo.

Cruzei a linha de chegada com várias amigas e minhas filhas! Foi maravilhoso.

 

GR – E aí como surgiu a ideia de participar da Ultramaratona Maresias Bertioga no percurso solo 75km? O que a inspirou a participar desta prova?

Vanessa – Bom, esta é uma história super engraçada. Começou como uma brincadeira junto com amigas em um grupo de Whatsapp, em outubro do ano passado, logo no final de semana após a prova – o marido de uma delas foi fazer seu primeiro solo. Lembro-me como se fosse hoje nós brincando no grupo sobre realizar esta prova. Porém, naquele mesmo dia, fomos todas juntas treinar e alguém escutou nossa brincadeira e “levou a sério” e saiu falando para algumas pessoas.

Naquele dia mesmo esclareci que era uma brincadeira de amigas e que embora a prova fosse um sonho, eu não teria a coragem nem a cabeça para realizar….

Foi ai que tudo aconteceu! Eu e uma amiga estávamos treinando, quando fui surpreendida por um comentário maldoso, pois esta pessoa veio tirar sarro da minha cara por conta do papo que para mim já havia sido esclarecido. Neste momento olhei para a minha amiga e ela disse: “Não fala nada, eu já sei!”.

Dito e feito, assim que abriu a inscrição da prova eu me inscrevi. E ai o que era um sonho distante e uma brincadeira, acabou se tornando realidade.

 

GR – Como foi a sua preparação?

Vanessa – A preparação aconteceu a partir de abril (se não me engano), um mês antes da edição da prova em Maio. Abril e maio basicamente foram meses voltados ao fortalecimento. A partir de maio, como eu estava inscrita na São Paulo City Marathon, em julho, seria ela que abriria meus treinos. Realizava tiros, rodagens, aquele treinamento que fazemos pré maratona.

Porém, final de maio fui surpreeendida com uma bronco pneumonia, que debilitou demais a minha saúde. Procurei diversos especialistas, pois eu não  evoluía no meu quadro, até que um pneumologista descobriu o meu “problema”: aquela bronco pneumonia havia evoluído e eu estava com “derrame pleural”, conhecida popularmente por água no pulmão.

Neste momento eu cheguei a pensar de desistir de tudo, afinal, estava há quase 2 meses da maratona e mal conseguia correr sem faltar o ar. Foram 15 dias de agonia para saber se eu precisaria drenar aquela água, quando meu médico falou: “Não pare de treinar, devagar você vai manter seu pulmão em funcionamento e assim vamos conseguir elimiar a água”. E lá ia eu, para meus treinos com bombinha de ar, medicações e inalador para quando a crise ficava pior.

Um mês antes da maratona, após exames, nem os médicos entendiam como não havia nada em meus pulmões, meu médico me indicou usar ainda até após a maratona a bombinha de ar. Estava feliz demais, porém não tinha grandes pretensões na maratona, novamente a meta seria completar.

20 dias antes da prova, meu quadro de saúde piorou de uma forma que os médicos não entendiam o que estava acontecendo comigo, foi aí que, após diversos exames, descobriram que eu estava com H1N1. Foi desesperador! Mais uma vez eu pensava comigo: “acho que devo esquecer BM”.

Mas lá no fundo, eu não teria coragem de adiar este plano.

Bom, chegamos no dia 31/07 lá fui eu para o meu tal “treino de luxo” a City Marathon.

Sei o quanto esta prova é dura, mas estava disposta a tentar. Estratégias alinhadas com meu treinador, partimos para a largada. Neste momento percebo que havia esquecido toda minha suplementação e a minha bombinha de ar. Combinei que pegaria isso tudo quando passasse no km 20 com meu treinador.

Tudo deu errado, meu corpo estava fraco e foi simplesmente apavorante fazer aqueles primeiros 21k. Ao chegar no Jóquei, recebi minhas coisas, mas era tarde demais. Corremos mais um pouco eu e um super amigo que me acompanhava e tentava me manter em pé…. Não dava, não ia… me arrastava… aí abortamos.

Fiquei muito triste, chateada! Me culpei por ter esquecido minhas coisas, mas precisava recomeçar. Uma semana brava me deram forças suficientes para recomeçar mais forte que nunca.

E lá fui eu… Longos até então conhecidos por mim… 25k, 30k, 35k até que me deparo com 40k, uau! pensei eu, quem faz 40 faz 42.195 e assim eu “vingaria” aquela maratona que deu tudo errado! Rs, Tirando os longos de sábado e domingo, na semana eu fazia muito fortalecimento e rodagem na esteira. Cheguei a fechar uma semana com 90km. Volume e fortalecimento, assim se baseava meu treino.

Mas claro que preciso de emoção… comecei a sentir uma dor na lombar do lado esquerdo que de início cheguei a pensar que fosse uma lesão, até eu ter uma crise de cálculo renal. Pronto! Era só o que faltava! Meus treinos foram totamente alterados, eu não corria, apenas pedalava e muito. Estava quase mudando de ultra para iron rs!

Liberada pelo médico e treinador lá fui eu fazer meus 42k! Sozinha, pela cidade de SP fechei meu treino feliz demais. Próximo treino….. 45km! Uia! Pensei eu, será que é possível? Fazer uma maratona em um sábado e outra em um domingo?

Claro que é possível!

Dia 24/09 lá fui eu e um grande amigo (gratidão total) pelas ruas da cidade de SP. Fizemos nossos primeiros 45km juntos. Foi demais! Terminei meu treino acreditando que BM seria possível! Depois destes 45km meus treinos e volumes começaram a baixar, pois a data 21/10 estava super próxima.

 

GR – O treino mental em provas como esta é tão importante ou mais do que o físico. Como você se preparou?

Vanessa – Bom, tanto para uma maratona, quanto para uma ultra, depois dos 32 e dos 42 é pura cabeça! Como fiz muitos treinos sozinha e na esteira minha cabeça estava muito preparada. Sem contar que a prova para mim havia virado uma META! (Lembram da história que vieram tirar sarro de mim? )

Eu gosto se correr com música e por incrível que pareça não me importo em treinar sozinha, embora quando estou acompanhada também é muito legal.

GR – Como foi a sua rotina de treinos?

Vanessa – Treinos vou abrir um parênteses (já estou com saudades! Rs). Meus treinos de corrida eram 3 vezes por semana, sendo duas vezes na semana e um no final de semana. Duas vezes por semana uma corridinha leve e muito fortalecimento e alongamento. Os treinos eram baseados em volumes e não em velocidade.

 

GR –       Finalmente a prova! – como foi a experiência? Quais as maiores dificuldades? Em quanto tempo fez?

Ah… a prova!

Um sonho! Uma meta!

Foi uma das melhores experiências da minha vida! Sofrida? Demais, faria novamente? Claro!

Bom a maior dificuldade para mim sem sombra de dúvidas foi o de correr na praia. Não tenho experiência alguma com esse tipo de corrida e lá fui eu com a cara e a coragem. O primeiro trecho o meu pé afundava na areia. Parecia que eu não saia do lugar… RS. Cada posto de controle que se passa é uma vibração e alegria.

Como a minha meta era completar o percurso eu não tinha pretensão de tempo, porém sabia que havia um tempo limite. O trajeto foi feito em 13hs

Ao chegar no posto de controle sete fui informada que aquele posto estava fechado e que a prova praticamente seria encerrada antes que eu chegasse ao final da Serra. Meu treinador junto com a organização me fizeram retirar o meu chip do braço e o meu número de peito para que assim eu pudesse subir a serra mesmo contra vontade da organização pois julgava ser perigoso. Pensei em parar, mas meu treinador olhou para mim mandou engolir o choro e falou: “faltam apenas 10 km, estamos tão perto, você não vai parar!”. Então lá fomos nós, eu, um amigo e o meu treinador.

 

GR – Esta é uma prova casca grossa – em algum momento pensou em desistir?

Vanessa – É uma prova muito difícil, com a serra, a areia, o calor…Tudo é difícil.

Em nenhum momento passou na minha cabeça desistir, salvo quando fui obrigada a entregar meu chip, mas como a minha meta era completar 75 km, fiquei muito chateada por não ter feito no tempo correto no tempo de corte, porém realizada em ter cumprido meu desafio.

 

GR –  Qual foi a emoção de concluir a prova – mesmo já sem a estrutura da organização?

Vanessa – Emoção? Até hoje choro de lembrar tudo o que vivi naquele sábado. Pessoas especiais estiveram ao meu lado, e graças a elas eu conclui este desafio. Foi um momento especial ao chegar na praia de maresias, andava, olhava ao redor via pessoas que eu não conhecia me aplaudindo, gritando. E quanto mais eu me aproximava de onde estava a estrutura eu percebia um aglomerado de pessoas que ali estavam.

Uns 300 metros fui recebida por uma das maiores ultramaratonistas do Brasil a Fabíola Otero, que carinhosamente me abraçou, segurou a minha mão e falou: você conseguiu!

Onde estava o pórtico estavam meus anjos! Não posso nem tenho coragem de chamá-los de amigos, pois naquele momento eles eram meus anjos! Gritos, aplausos e muito carinho foi assim a minha chegada! A praia inteira aplaudindo e eu… realizada!

Go Running – Depois dos 75k qual será o próximo desafio?

Vanessa – Bom…tenho algumas metas! A São Paulo City Marathon…. ano que vem ela não me escapa! Rs

Também estou no sorteio para os 25K da Mizuno Uphill ….

E talvez… BM novamente, agora em busca de um tempo bom e não apenas para completar!

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