POR PIETRA LAFEMINA – A primeira Major do ano trouxe emoção, desafios e surpresas para os corredores brasileiros que participaram da Maratona de Tóquio 2025, realizada no último domingo, 2 de março. A prova reuniu 38.000 atletas nas ruas da capital japonesa, marcando o início da temporada das sete maiores maratonas do mundo.
Entre os destaques do evento, além da performance dos brasileiros, esteve a participação inusitada do cantor Harry Styles, que finalizou a corrida com um tempo impressionante de 3h24min.
Para muitos corredores brasileiros, a prova foi mais do que uma competição, foi a realização de um sonho. Marcelo Camargo, do Rio de Janeiro, celebrou a conquista da mandala das World Marathon Majors, um feito reservado para quem completa as seis principais maratonas do circuito. “A Maratona de Tóquio realmente é diferente, assim como esse país incrível que é o Japão. Se tornou ainda mais especial e memorável por ter conquistado a minha tão almejada Mandala, ainda mais com a presença da minha esposa. Apesar do calor ter nos surpreendido, a estrutura é impecável, então foi só alegria! Agora é recuperar para já pensar nos próximos desafios.”

Alexandre Roxo compartilhou os desafios enfrentados na preparação para a prova. “Tóquio foi o fim de uma jornada que durou 14 anos, desde Berlim, em 2011, quando corri minha primeira Major. De lá para cá, fiz tudo dentro do possível, com muito esforço físico e financeiro. Após uma boa prova em Londres, no ano passado, minha preparação para Tóquio foi adiada em 45 dias devido a uma lesão na panturrilha que reincidiu três vezes. Treinar no verão do Rio foi um capítulo à parte: acordar às 4h da manhã para correr antes do sol se tornou rotina. Chegado o momento da prova, a ansiedade era grande. Durante o percurso, revi mentalmente cada uma das maratonas que me trouxeram até aqui. No km 34, encontrei minha esposa Mônica, que me esperava com uma ‘santa’ Coca-Cola. Revigorado, parti para fechar os 42 km mais especiais de todos. Aos 56 anos, cheguei a pensar que essa seria minha última maratona, mas depois de encontrar um amigo que corria sua quinta Major aos 76 anos, achei um desperdício parar por aqui. Quem sabe o que me espera no futuro?”

Luciana Zanchetta Oliver destacou o percurso desafiador e a estrutura da prova. “Tóquio poderia ser uma das Majors mais rápidas, competindo com Berlim e Chicago, porque os primeiros 5 km são predominantemente de descida. Mas a aglomeração atrapalha muito. Corremos em grandes grupos o tempo todo, o que dificulta ultrapassagens. Além disso, por ser uma ilha pequena, fazemos muitas curvas. O psicológico pesa, já que em determinados trechos vemos corredores finalizando a prova enquanto ainda temos quilômetros pela frente. Lá pelo km 35, deparamos com a placa de 41 km do outro lado. Além do famoso muro, temos que lidar com o fato de que os corredores estão chegando, quando ainda temos 7 km pela frente. Batalha árdua com a mente! Mas, sem dúvidas, é uma das maratonas mais bonitas do mundo.”

Apesar da organização geralmente elogiada, um problema inesperado causou indignação entre muitos corredores: a falta de água nos postos de hidratação. Rosana Zanini, que largou do curral K, um dos últimos, ficou chocada com a desorganização. “Logo no primeiro posto de hidratação, já não tinha água. Havia isotônico, mas sem copos. Tínhamos que fazer concha com as mãos para beber. Vi pessoas pegando copos do lixo para conseguirem se hidratar. Com o calor que fazia, isso foi desesperador. Estamos falando de uma Major! Passei por postos onde os voluntários apenas acenavam para os corredores, sem nada para distribuir. Isso compromete a prova. Uma coisa é enfrentar desafios naturais de uma maratona, outra é lidar com uma falha grave que coloca a saúde dos atletas em risco.”

Ela também mencionou outras dificuldades enfrentadas pelos corredores. “A gente fica feliz de ter concluído mais uma prova, estar viajando, mas não é por isso que esse desrespeito pode passar em branco. Já tem o lance da feira, que é absurda em relação à aquisição de itens da prova. No primeiro dia, logo no início da feira, a fila era de 5 horas para entrar no stand da Asics e os produtos se esgotaram rapidamente. Mas paciência, faz parte. Agora, faltar água numa Major com aquele calor é um absurdo. Estamos tratando da saúde dos corredores.”
A Maratona de Tóquio 2025 ficou marcada por emoções intensas. Agora, os olhos se voltam para a próxima Major do calendário: a Maratona de Boston, que acontece em abril. Para muitos corredores, a jornada continua.