ULTRANORMAL: Os anti-inflamatórios na corrida

medical-pillsPOR ANA PAULA PENTEADO – Correr, assim como qualquer atividade física, pode causar danos musculares. Mas nem todo dano é “maligno” ou deve ser evitado. Por exemplo, quando fazemos uma atividade física nova ou aumentamos a atividade, nosso corpo produz radicais livres que podem causar danos ao tecido muscular – pequenas rupturas que normalmente vem seguidas de inflamação. Esse é um processo normal e é como nossos músculos se desenvolvem. Por isso existe um período de descanso que deve ser respeitado, permitindo a recuperação e o desenvolvimento muscular.

No entanto, nesse período de recuperação muitas pessoas se sentem desconfortáveis pelas dores que comecam um ou até dois dias depois da atividade (músculos maiores, como por exemplo os das pernas ou glúteos, levam mais tempo para ficarem doloridos). Esse tipo de dor é conhecida como dor muscular tardia ou DOMS (do inglês, “delayed onset of muscle soreness”). Algumas pessoas recorrem a medicamentos anti-inflamatórios para acelerar a recuperação ou ter um alívio das dores. Mas devemos realmente usá-los?

A resposta curta é – não! Como esse é um processo natural do corpo, não há razão para tentar evitá-lo, além do risco que alguns medicamentos apresentam. Anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs, como por exemplo, aspirina ou ibuprofeno – Advil) podem causar sérios problemas renais se usados com frequência. Esse processo se acelera mais ainda se combinado com esgotamento físico e/ou  desidratação (e ambos podem acontecer facilmente se você é corredor). Os riscos a saúde são tão grandes que já houveram casos fatais em eventos ligados ao uso de ibuprofeno e algumas ultramaratonas ao redor do mundo advertem sobre riscos. Um estudo feito na ultramaratona americana Western States e outro na maratona de Bonn na Alemanha também mostraram que o uso de ibuprofeno antes da corrida não reduz (e pode ate aumentar) a inflamação muscular. Outros estudos mostraram que corredores que usaram analgésicos tem até 4 vezes mais chances de  apresentarem cólicas durante uma corrida e o uso do medicamento também é ligado ao aumento de pressão arterial. Isso não quer dizer que esses medicamentos não devam ser usados, pois os mesmos podem ser boas opções (em níveis controlados, de preferência por um médico) em tratamentos de algumas lesões, mas seu uso desnecessário e indiscriminado como forma de prevenção ou recuperação pode trazer consequências malignas.

Portanto, ao invés de procurar uma “pílula magica” para acabar com a dor muscular tardia, corredores se beneficiam muito mais de outras técnicas. O aquecimento antes da atividade e o alongamento depois diminuem a incidência/intensidade da dor. O alongamento também pode ser feito por “rollers” – cilindros (normalmente de espuma), usados para “rolar” sobre os músculos.

A nutrição tem um papel importante – o sistema antioxidante do nosso corpo depende de uma dieta rica em nutrientes como vitaminas A, C, E, minerais e aminoácidos para ajudar na recuperação, pois esses reduzem os efeitos do estresse no corpo, combatendo a produção de radicais livres (e não precisa ser suplemento, basta consumir alimentos ricos nesses nutrientes). Além de alimentos antioxidantes, precisamos também de alimentos com propriedades anti-inflamatórias para ajudar no processo de recuperação. O consumo de proteína depois da atividade física também é recomendado para auxiliar na recomposição muscular.

Além da alimentação ha outras opções naturais de acelerar o processo de recuperação muscular, como banheiras de sal (Epson é melhor, pois é rico em magnésio) e, apesar de um pouco controversa, algumas pessoas consideram as massagens como uma maneira de diminuir a inflamação local (principalmente se for feita com algum creme anti-inflamatório).

Nossos músculos facilmente se adaptam a atividades novas/mais intensas, portanto seja paciente e cuide de sua recuperação com a mesma atenção que você dedica aos treinos.

 

Ana Penteado é corredora há 25 anos e a última prova que fez é conhecida como a ultramaratona mais dificil da Australia, 175km em trilhas/montanhas. Mas para a Ana, o conhecimento em corridas não vem apenas da experiência. Ela é casada com Dom Cadden, que é treinador, multi-atleta e escritor para revistas e jornais na area de saúde, nutrição e treinamento. Há alguns anos atrás, a Ana e o Dom fizeram um documentário sobre ultramaratonas. Alguns dos artigos publicados internacionamente pelo Dom podem ser vistos aqui: http://www.wtfitness.com.au/articles

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