Extremo Sul Ultramarathon – Uma Jornada Pela Maior Praia do Mundo

POR ANDRÉ FERRAZ – Olá leitor, tudo bem? Te faço uma pergunta para começar esse novo texto da minha coluna no portal.

Você sabia que a maior praia do mundo se localiza no Brasil? Mais precisamente no Rio Grande do Sul. A Praia do Cassino, começa no Chui, fronteira com o Uruguai, e termina na cidade de Rio Grande, após seus extensos 240km de faixa de areia contínua.

Foi lá no Cassino, em novembro de 2024 que se passou essa jornada que irei compartilhar por aqui com todos vocês, apaixonados por corrida!

5 da manhã, tocou meu despertador. Já havia deixado todo o meu equipamento pronto, pois sabia que aquela manhã de sexta-feira seria bem corrida, afinal, nosso ônibus saindo do Hotel Atlântico em Rio Grande em direção ao Chui sairia bem cedo.

Seriam 4 horas de viagem, até a fronteira do Brasil com o Uruguai. O frio na barriga já estava intenso, não sabia bem o que iria enfrentar nas próximas muitas horas da minha vida.

A Extremo Sul Ultramarathon, é uma prova de autossuficiência, teria que carregar comigo, 3 litros de água e toda a minha refeição (Bananinha, rapadura, géis, eletrólitos, etc) para as 52 horas de tempo limite de prova. Com isso, eu tinha em mente que largaria, e por muito tempo carregaria uma mochila pesada nas costas (cerca de 7Kg).

Nas bases de apoio, contaria com água para reposição e comida (massas e sopa). E em duas delas com minhas drop bags, mochilas extras para levar outras roupas e comida para reposição.

Chegando ao Chui em torno das 10 da manhã, fomos recebidos pela a equipe de organizadores da prova com um belíssimo café da manhã e um último brifing pré prova.

O relógio apontou as 11:00hrs da manhã, alinhados na largada…A sirene toca, vamos nessa!

39 guerreiros e guerreiras largaram rumo a cidade de Rio Grande, saindo do Chui, percorremos um trecho de 9km até entrar na imensidão da maior praia do mundo, simplesmente foi assustador! Olhei para o horizonte e não avistei nada diferente até onde meus olhos puderam enxergar! Pela direita o mar quebrando, sem nada na frente, pela esquerda as dunas, para frente areia e para trás, areia. Esse foi o visual dos 226km de prova que enfrentei!

 Parecia correr na esteira, uma monotonia de visual, o barulho do vento que me empurrava para trás com cerca de 45km/hr em média!

 Minha estratégia inicial, sempre foi correr entre 2 e 3km e andar 1km. Apesar de ver muitos corredores me passarem, mantive a calma e confiei no plano. Quem acompanhou a prova pelo monitoramento de GPS ficou nervoso, achando que eu havia “quebrado” ou errado na estratégia, afinal, os primeiros colocados estavam cada vez mais se distanciando de mim.

 Ao longo da primeira tarde, fui sentido meu corpo e buscando me alimentar e hidratar bem. Sabia que a noite, seria a hora de “atacar” meus adversários e passar um por um. Passei a base 1 no km 25, rapidamente enchi as garrafas, peguei comida e sai andando. Na base 2 no km 65 aproximadamente, parei para comer uma sopa, já estava começando a anoitecer. Foram cerca de 5 minutos parado, mas que levantaram minha energia!

 A próxima base, seria próximo ao km 100, minha estratégia seria trocar de roupa e pegar mais da minha suplementação. Porém, o imponderável aconteceu! Por uma falha na organização, alguns atletas não tiveram sua drop bag levada até a base! Como seguiria, em uma praia deserta, em um ambiente inóspito, correndo o risco de hipotermia, ficar sem comida e repositores de sais?

 Tomei uma decisão que mudou toda a minha prova naquele momento! Pedi a ajuda das pessoas na base para limpar meu tênis sujo de areia, tomei uma canja rapidamente, escovei os dentes, troquei de meia, pegue exatamente 2 mariolas e 2 tubetes de bala de goma, agradeci aos staffs pela ajuda e sai na escuridão do Farol Albardão.

 Não pensei, só fui!! Já amanhecendo, cheguei no próximo ponto de apoio e perguntei minha posição: “André, você é o sexto colado”. Essa resposta, me deu uma energia absurda, e logo sai para buscar o 5° colocado.

O problema disso, foi que a falta da minha suplementação, me fez ir aos poucos desidratando, e comecei a perceber que meu xixi estava muito escuro! Por ser da área da saúde e conhecer de fisiologia, sabia que corria o risco de apresentar sintomas de hiponatremia e rabdomiólise.

Sentei por um minuto na faixa de areia para pensar no que fazer! Como não tinha muito jeito, levantei e segui. Por incrível que pareça, encontrei um carro após muitas horas sozinho. Pedi água gelada. Tomei e junto com um sache de leite condensado, parecia que estava novo de novo. Perguntei se o próximo atleta estava longe. Por surpresa o rapaz me disse: “ele está acerca de 2km de você”.

Sai correndo em busca dele! Fiz tanta força que cheguei junto na base 5, no km 170. E para minha alegria, o quarto colocado estava por lá também fazendo massagem.

Fui rápido, sai e numa tacada só passei para quarto lugar da prova!! Fui focado, sem olhar para trás….e faltando 5km para finalizar, ultrapassei o terceiro colocado!! Não estava acreditando! Eu estava em 3° lugar na prova mais difícil da minha vida!

Cruzei a linha de chegada após percorrer 226km em 36hrs sem parar, sem dormir, simplesmente acreditando no plano traçado!

 A jornada numa ultramaratona nunca será fácil, mas a dor sempre é recompensada no final!

SOBRE O AUTOR

André Ferraz

Fisioterapeuta com 18 anos de experiência no atendimento na área esportiva

Ultramaratonista em Ambientes Extremos

6x Finisher em Provas acima de 200km

3° Colocado na Extremo Sul Ultramarathon – Prova de 226km na maior praia do mundo

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