POR LUCIANA GARMS – Quando eventos esportivos de longa duração ocorrem em temperaturas altas ou baixas, aumenta muito o risco de distúrbios térmicos
Amadores que participam de provas de longa distância! Quando esses eventos ocorrem em temperaturas altas ou baixas, aumenta o risco de distúrbios térmicos.Apesar de cada indivíduo responder de modo diferente a ambientes desfavoráveis e que o estado de saúde de cada um pode variar de um dia pro outro, tomar os devidos cuidados não garante proteção contras esses problemas!
No Esporte de aventura e em todo esporte outdoor que envolva condições extremas de altitude, temperatura e terreno, temos o fator ambiental, climático, que não são totalmente previsíveis, mas pode-se ter um bom planejamento e minimizar os seus efeitos.
O grau de treinamento e de conhecimento dos corredores tem aumentado bastante, entretanto é importante reforçar alguns fatores que podem predispor o atleta a lesões induzidas pelo calor.
✔ Obesidade
✔ Baixo grau de aptidão física
✔ Desidratação
✔ Má aclimatação ao calor
✔ Privação do sono
✔ Uso de alguns medicamentos( diuréticos/hipertensivos)
✔ Baixo aporte energético
✔ Doenças/ sinais que ocorram 1 semana antes do evento( febre, infecções do trato respiratório, diarreia)
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, se você vai correr no calor, precisa treinar no calor!! O treinamento prévio em temperaturas elevadas produzirá uma aclimatação, reduzindo os riscos de distúrbios pelo calor.
Um outro item que vale a pena salientar é o cuidado no consumo de água! Ela é muito importante, entretanto um consumo excessivo de água pura durante eventos prolongados pode levar a uma hiponatremia dilucional( ou seja, muita água e pouco sódio!), que pode trazer desorientação, confusão mental, convulsões e até o coma.
A desidratação é comum nas provas de longa distância, e pode ocorrer tanto em ambiente frio quanto quente!! Em média perde-se de 0,47 a 1,42litros de suor/hora, e normalmente a reposição é insuficiente. Além disso os corredores podem ter hipertermia (temperatura corporal central acima de 39ºC) ou hipotermia (abaixo de 36ºC), dependendo de condições térmicas, ingestão calórica, de consumo de líquidos e das roupas!
Os distúrbios térmicos mais frequentes durante corridas de longa distância são a exaustão pelo calor, o colapso pelo calor, hipotermia e o congelamento das extremidades.
1. EXAUSTÃO PELO CALOR: a perda de suor pode causar um deficit de água corporal de 6 a 10% do peso corporal! É o distúrbio induzido pelo calor mais comum entre os atletas,e é definida como a incapacidade de continuar um exercício no calor!
Ela representa uma falha em manter respostas cardiovasculares adequadas ao exercício diante de uma carga alta de trabalho, em uma temperatura ambiente alta acompanhada de desidratação. A exaustão não trás efeitos permanentes deletérios ao corpo. Sintomas mais comuns: cefaleia, astenia,tonteira,vertigem,”sensação de calor” na cabeça e pescoço,cãimbras, calafrios, náuseas, vômitos e irritabilidade. O início é normalmente súbito e a duração do colapso curta. Mesmo sendo improvável que todos os casos de exaustão pelo calor possam ser evitados, os indivíduos mais suscetíveis são aqueles que estão realizando uma carga de exercício maior do que sua capacidade funcional, desidratados, fisicamente inaptos e não aclimatados ao calor.
2. COLAPSO PELO CALOR: a produção de calor durante um exercício intenso, principalmente pelos músculos é cerca de 15 a 20x/ maior do que em repouso. Quando a taxa de produção de calor excede a de dissipação, por um determinado tempo, ocorre a hipertermia grave! O Colapso ao calor é o distúrbio mais grave associado ao aumento da temperatura corporal. A temperatura central corporal eleva-se a um nível que causa lesão nos tecidos corporais, afetando múltiplos órgãos! O risco é menor em corredores bem hidratados, bem alimentados, descansados e aclimatados. Os atletas NÃO devem se exercitar se estiverem com alguma doença, infecção respiratória, diarreia, vômitos ou febre. Deve-se ficar atento a hipertermia excessiva na ausência de desidratação importante,principalmente em corridas de menos de 10km!!, já que o ritmo mais acelerado gera um maior calor metabólico! As taxas de mortalidade de lesão de órgãos pelo colapso está diretamente relacionado a duração entre a elevação da temperatura central e o início do resfriamento corporal. Quando o resfriamento é iniciado rapidamente , a maioria dos atletas recupera-se completamente. É uma emergência médica!
3. HIPOTERMIA: temperatura central abaixo de 36ºC! Ocorre quando a perda de calor é maior do que a produção metabólica de calor. Entre os sintomas precoces inclui calafrios,euforia,confusão mental e alterações de comportamento. Em maratonas e ultramaratonas em ambientes muito frios os distúrbios mais comuns são hipotermia, exaustão e desidratação. As condições do vento e umidade podem dar a sensação térmica de mais frio, portanto os corredores devem se proteger da umidade, vento e frio com roupas leves, mas que tenham um bom isolante térmico e peças que sejam a prova de vento e umidade.
4. CONGELAMENTO DE EXTREMIDADES: com baixa temperatura cutânea e desidratação há uma diminuição da circulação sanguínea das extremidades. O congelamento pode ocorrer segundos ou horas de exposição, dependo da temperatura do ar, velocidade do vento e do isolamento térmico do corpo. A pele pode ter aparência bastante pálida ou arroxeada, dura, fria e insensível ao toque. A formação de bolhas é comum e pode ocorrer perda de extremidades(dedos,orelhas,nariz). É urgente o aquecimento corpóreo, retirada de roupas úmidas e molhadas e evitar o recongelamento, que é um quadro ainda mais deletério as células.
Os esportes outdoor exigem do corpo adaptações e condicionamento que vão além do treinamento específico da modalidade esportiva! Ela leva em conta as condições climáticas! E dentro do treinamento é importante a aclimatação e as estratégias de uso adequados de equipamentos ( roupas, calçados) e suplementação( hidratação e alimentação)durante tais eventos!
Ter um acompanhamento médico especializado e saber suas condições de saúde também faz parte do treinamento!
Luciane Garms – Médica ortopedista especialista em Medicina Esportiva. Formada em medicina na cidade de Botucatu pela Universidade Estadual Paulista, aonde se especializou em ortopedia. Também tem especialização em Traumatologia Esportiva pela Universidade Federal de São Paulo. Hoje atua na área de ortopedia, cuidando das lesões musculo-esqueléticas, mas principalmente, tratando das lesões relacionadas ao esporte. Além da profissão, Luciane é atleta, pratica maratona e ultramaratona de montanha e corrida de aventura.