O desafio dos 223km na Brazil 135+ Ultramarathon

POR ITAMAR BERNARDINELI ALVES – Depois de participar da Brazil 135+ Ultramarathon por 4 vezes, cada ano com uma distância diferenciada (217kms, 281kms, 260kms e  217kms), agora em 2019 houve uma nova alteração de kilometragem, dessa vez  para 223kms.  Corri na categoria 5 maratonas, como solo, sem apoio (survivor mesmo) e com uma mochila de aproximadamente 7 quilos, mas bora lá que a linha de chegada me aguardava.

Dada a largada, pontualmente às 10h, logo iniciei o trecho de 31 km na Serra do Deus me Livre (olha só esse nome!). Grande parte do percurso era asfalto, sempre entre aclives e declives até chegar em Águas da Prata. Aí foi então que parti para a subida do Pico do Gavião, indo para Andradas, e neste momento a noite seria minha companheira.

Segui assim em direção à Barra com uma parada na pousada da Dona Natalina para a primeira refeição noturna. Tentei comer uma macarronada mas, apesar de parecer boa, não consegui comer nem a metade. Tirei um pequeno descanso e continuei então a jornada para Crisólia.

A noite estava enluarada clareando totalmente o caminho enquanto eu segui para Ouro fino, Inconfidentes e Borda da Mata, em um trecho no qual o uso da lanterna foi mais que necessário. Chegando na Borda, fiz mais uma parada de descanso e bati um papo com meus amigos André Zumzum e Mônica Otero. Antes de sair, tomei um copo com um açaí refrescante que ganhei do Douglas e ainda recebi uma boa massagem nas pernas feita pelo Sidnei.

Daí para frente encarei a parte mais difícil da prova, com subidas e descidas intermináveis. O clima mudou totalmente, o sol imperou implacavelmente por todo o dia. Quem já fez o Caminho da Fé, sentido Aparecida, sabe muito bem o que significa esse percurso montanhoso para Tocos do Mogi e Estiva até a chegada da 4ª Maratona.

Acompanhado de meus amigos Marcio Araújo, Marletta, Alicinha e Tomiko Eguchi, vi a chuva caindo forte e descansei por uma hora. Com a noite chegando, o tempo fechado e muitos relâmpagos, fui pela Serra do Caçador sentido Consolação. Corri e caminhei, meu estômago reclamou muito, mas comida eu não podia digerir, somente muita água, isotônicos, água de coco, sucos e refrigerantes, que comprei nas passagens pelas cidades ou ganhei das equipes, como a dos meus amigos Filipe e Camila. Sinto enorme gratidão por esses ultras, que já são experientes na prova e agora seguem apoiando vários atletas.

O segundo dia foi totalmente solitário, cruzei com poucos atletas, mas caminhei um pouco com a Sílvia, que veio do Uruguai, e que naquele momento precisava de ajuda quando paramos na subida para Tocos. Em uma casa de apoio fomos recebidos com bastante água, uma ducha do lado externo da casa e algumas bananas.

Durante esse dia, já em modo econômico e em função da alta temperatura e da altimetria agressiva, diminuí drasticamente o ritmo e segui para o último trecho, de Consolação para Paraisópolis, pouco mais de 20kms para a chegada. Caminhei e fiz trotes nessa etapa e encontrei uma galera do Rio Grande do Sul, o Marcelinho do Rio de Janeiro, entre outros mais.

Caminhamos juntos por um certo período e no caminho encontramos uma árvore caída que impedia os carros de apoio a prosseguirem, mas as equipes se juntaram e conseguiram desbloquear a passagem. Caminhei a noite toda a passos largos, sempre imaginando a minha chegada, e fiz orações e agradecimentos a todos aqueles que sempre estiveram comigo de forma física e espiritual. Quanto mais difícil o trajeto, procurei ir mais rápido, com minha mente determinada até cruzar a linha de chegada com a surpresa de ver o pessoal de Ribeirão me esperando.

O tempo de prova que eu controlava no inicio da jornada já não fazia mais nenhum sentido e sua importância passou a ser secundária, mas só para constar foram 42h e 2 minutos e fui o 18º colocado entre 105 participantes. Minha próxima parada agora é a Patagônia Run, uma prova com percurso de 100 milhas e que acontece na Argentina.

Itamar Bernardineli Alves é ultramaratonista, Educador Fisico e responsável pela Ultraita Running Assessoria Esportiva

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