POR LUCIANE CASANOVA
Estava fazendo meu alongamento pós treino, quando encontrei um velho amigo, lá da época do colegial, que também corria e sabia sobre o meu amor pela corrida. O indaguei sobre como estava indo nas competições e fui surpreendida com a resposta que me foi dada: “Ah, desisti, eu quase sempre era o último a chegar”. Em meio a gargalhadas chegou a me confidenciar ter medo de competir, justamente por nunca ter conseguido completar uma prova com boa colocação.
Então, voltei pra casa pensando: “Ué, mas será mesmo que para ser um campeão, um vencedor, eu preciso sempre estar no pelotão de elite ou mesmo chegar entre os melhores?” Um segundo depois, eu já tinha a resposta para essa reflexão: “É claro que não”. É inegável que isso já faz parte de nossa cultura. Quem nunca disse ou ouviu dizer: “O primeiro lugar foi de fulano de tal e o segundo.. ah, quem foi mesmo que ganhou em segundo??”
Um vencedor tanto pode ser aquele que chega em primeiro, como aquele que chega em último e vamos combinar que muitas vezes o esforço de quem chega em último foi infinitamente maior do que ao daquele atleta sorridente em cima do pódio coroado com flores, espirrando champanhe na galera.
Um vencedor também é aquele que supera uma dificuldade, durante a prova. Lembro bem quando comecei a correr. Participei de uma corrida de 10km que fazia parte do Circuito Metropolitano de Santos. Estava ansiosa, mas sabia que não tinha treinado o suficiente. E lá fui eu. Quando cheguei na altura do km 6,5, avistei um senhor, grisalho, franzino, chegava a envergar as costas correndo. Emparelhamos e a minha curiosidade de iniciante me fez perguntar a sua idade. E sem esboçar nenhum pingo de cansaço, o senhor me respondeu: “Setenta e duas primaveras, minha filha!!!” E lá se foi o velhinho, o qual somente consegui ultrapassar faltando menos de 1 quilômetro para o fim da prova.
Poderia chamar esse episódio de vergonhoso, já que uma menina de 20 anos custou a passar um senhor de 72? Que nada…isso me impressionou de tal forma, que dali em diante treinei mais e mais, e hoje, encontro o mesmo senhor nas provas, mas já nos despedimos na largada, uma vez que melhorei um pouquinho e já consigo chegar em sua frente.
O ambiente esportivo está repleto de histórias de pessoas assim, de demonstrações de força de vontade, obstinação, luta e superação de fracassos ao longo da caminhada, sem esmorecer, até atingir seus objetivos e comemorar um último lugar como se fosse o de 1º.
Estar numa competição já é uma vitória. Terminar seja em primeiro ou em último lugar, não faz a menor diferença. Aquele atleta anônimo que pratica a corrida, sem a preocupação de participar de uma prova, sem a preocupação de diminuir sua marca, ele é um vencedor? Sim, ele também é um vencedor, pelo simples fato de fazer algo que gosta, com disciplina, prazer e objetivo, dia após dia, pensando sempre em melhorar sua condição física, sua saúde, sua qualidade de vida, suas habilidades técnicas.
Nós, corredores estamos sempre procurando melhorar as nossas marcas, sempre à procura do aprimoramento físico e técnico. Contudo, nem sempre conseguimos nosso intento e, mesmo quando conseguimos, muitas vezes, alguém está num dia melhor do que o nosso e abocanha algumas posições na frente. Isto faz parte da vida do atleta, seja ele profissional ou amador.
O importante é saber lidar com estas questões, ganhar versus perder, melhorar versus piorar, e saber que existe sempre uma próxima competição, uma próxima corrida, outra oportunidade para se testar, se avaliar.
Sem esquecer que existe uma programação de treinamento a ser cumprida para um evento seguinte que é uma nova chance para rever suas metas, reavaliar seus objetivos, aprender mais sobre você e os outros competidores e partir para novas conquistas: melhorar o tempo, melhorar a posição, melhorar para você, porque no final das contas, a medalha de participação sempre estará pendurada na parede, comprovando que você é sim, um grande vencedor!
#correrbemparacorrersempre