ULTRARUNNER: Como se manter motivado

POR ANA PAULA PENTEADO – É bem fácil sair para correr num dia ensolarado de domingo com clima ameno em um lugar inspirador, com boa companhia, em um ritmo e distâncias confortáveis, sem se preocupar com  horários e quando estamos nos sentindo muito bem. Entretanto, para fazer a corrida um hábito e ter acesso a todos seus benefícios, a prática deve acontecer frequentemente e em constante progressão e esse processo requere disciplina e dedicação. O desafio é se manter motivado mesmo quando as condições não são perfeitas.

A “situação ideal” para uma corrida é uma ocorrência rara. No dia-a-dia, normalmente teremos que enfrentar uma ou outra coisa que não está perfeita. Ao invés, foque nas razões pelas quais você corre – melhorar o condicionamento físico e ter uma vida saudável, perder peso, terapia para a mente, participar de uma prova, aumentar a velocidade…seja qual for seu objetivo, você precisa lembrar que para alcançá-lo, o treinamento deve fazer parte da sua rotina.

Se inscrever para uma prova pode ajudar.  Tendo se comprometido a um evento, o treinamento se torna essencial. O treinamento é muito mais difícil do que o evento, pois é algo que vai durar semanas (ou meses) e não há torcida, medalha ou glória. Tudo depende apenas de você.

Há dias quando a vontade de correr simplesmente não existe e só o pensamento de correr já é  cansativo. Mas raramente alguém diz, “eu não estava com vontade de correr, mas fui e me arrependo”. No entanto, a maioria das pessoas que decidem não ir, se arrependem depois. Ao invés de pensar em todas as razões pelas quais você não deve correr, pense em como você se sente depois de correr. Conseguir quebrar essa barreira vai fazer você se sentir como um super-herói que lutou contra obstáculos e pensamentos negativos e treinou mesmo assim. O seu futuro (mesmo o futuro próximo) é você quem faz. Há também outros pensamentos que ajudam com motivação, como, por exemplo, pensar em alguém que te inspira.

Prepare-se com antecedência. Comece a pensar na sua próxima sessão de treino bem antes dela acontecer e como você vai lidar com qualquer problema que apareça. Se vai estar frio, planeje o que vestir. Se você vai correr por várias horas, planeje o que beber/comer. Esse processo todo ajuda com que você nem considere mudar de idéia, pois você já organizou tudo. Tenha sempre planos B, C, D…se você ia correr com um amigo que cancelou no último minuto, tenha já planejado como o treino será se você for sozinho.

O horário do treino também pode influenciar – treinar no final do dia vai requerer muito mais compromisso, pois várias coisas podem surgir para interferir nos planos. Já treinar de manhã tem um único obstáculo – você mesmo (e seu relacionamento com a cama!). No entanto, o horário que cada pessoa se sente melhor para se exercitar varia, portanto se você não gosta das manhãs, corra no final do dia.

Saiba distinguir se o que você esta sentindo é preguiça ou cansaço. Isso é bem mais difícil do que parece, pois existem situações onde estamos verdadeiramente no limite do cansaço ou estamos doentes (ou prestes a adoecer). Nessas situações, o melhor é não ir, mas se você for, rapidamente se torna claro que você não deveria estar alí (e aí basta parar, mas pelo menos você tentou). Use a corrida para conhecer os sinais do seu corpo e definir quando descansar ou quando é apenas preguiça – e nesse caso, vá mesmo sem ter vontade!

O exercício físico promove a circulação sanguínea, mandando mais energia e oxigênio para nossos músculos e órgãos (inclusive o cérebro) para conseguirmos nos mover rapidamente e eficientemente. Todo essse estímulo nos faz pensar mais claramente. Existe também o efeito calmante que acontece com a respiração mais profunda, além da capacidade de nos concentrarmos melhor por nos removermos de distrações. Considerando todos esses benefícios, devemos tentar treinar mesmo em algumas situações quando a vida anda problemática – talvez você seja capaz até de solucionar problemas enquanto corre, mas mesmo que isso não aconteca, o exercício melhora seu corpo para encarar as dificuldades. Vale também uma regra usada como treinamento de pessoas que trabalham com vidas – você não pode ser eficiente e útil para outros (ou salvar a vida de alguém) se você não cuidou de você mesmo primeiro. Muitas vezes pode parecer egoísta sair para correr se as pessoas a sua volta não estão bem ou há algum problema. Entretanto, se a situação permitir que você saia por uns momentos para treinar, ao retornar você provavelmente estará melhor para ajudar aos outros.

Se mesmo assim você ainda está tendo dificuldades, visite um médico – pode ser que seu corpo esteja com deficiência de algum nutriente ou que você esteja apresentando sintomas de alguma doença (o cansaço é sintoma de várias doenças). Se tudo estiver bem, talvez seja um desgaste causado por esgotamento físico e nesse caso, avalie a possibilidade de tirar umas férias.

O maior desafio de corridas é conseguir fazê-las parte da sua vida, mas uma vez que isso acontece, essa parte se torna tão essencial quanto comer, dormir ou respirar e é então que realmente atingimos um estilo de vida ideal, com equilíbrio entre atividades.

Ana Penteado é corredora há 25 anos e a última prova que fez é conhecida como a ultramaratona mais difícil da Austrália, 175km em trilhas/montanhas. Mas para a Ana, o conhecimento em corridas não vem apenas da experiência. Ela é casada com Dom Cadden, que é treinador, multi-atleta e escritor para revistas e jornais na area de saúde, nutrição e treinamento. Há alguns anos atrás, a Ana e o Dom fizeram um documentário sobre ultramaratonas. Alguns dos artigos publicados internacionamente pelo Dom podem ser vistos aqui: http://www.wtfitness.com.au/articles

 

 

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