ENTREVISTA: Wanderlei Oliveira, o mestre das pistas!

POR ANDREA FUNK -“Podemos comecar a entrevista amanhã, correndo. Esteja na pista às 5h59”. Esta foi a mensagem do treinador Wanderlei Oliveira no final de uma conversa via messenger sobre a minha intenção de fazer uma entrevista com ele para a Go! Running. Entre feliz e surpresa por ter conseguido agendar já para o dia seguinte ao primeiro contato – tinha ouvido falar que o WO, como é conhecido, é bastante seletivo e criterioso em suas ações – coloquei o despertador para às 4h30, calculei o tempo até o complexo esportivo do Ibirapuera onde ele treina, para chegar um pouco antes. E cheguei, mas quando entrei no local, acabei indo parar na área da piscina….. dei meia volta e ai já engatei um trote porque seria demais me atrasar. Ao encontrar o grupo já aquecendo, ele me dá bom dia e dispara: “Está atrasada – são 6h01” e o pessoal já descontraiu, brincando para me deixar à vontade.

Após um alongamento, fomos para a pista – ele me explicou um pouco sobre a metragem (foi a minha primeira experiência em uma pista de atletismo) e fomos conversando. Falou do início de carreira, dos seus 53 anos de corrida (desde 1965) – 28 deles sem pular sequer um dia –  quilometragem acumulada, sua atuação como jornalista, a fundação da Corpore, sua percepção sobre o mercado de running, provas preferidas. Tem tanta história para contar que daria para fazer algumas maratonas batendo papo e ainda iria faltar tempo. Ele foi um pioneiro das assessorias esportivas (a Run for Your Life foi criada antes de existir a Corpore), diretor da Federação Paulista de Atletismo, coordenador e atleta master do Clube de Corredores de Rua BM&F e de 1992 a 2002 trabalhou como técnico do Grupo Pão de Açúcar.

Em seu trabalho, WO sempre priorizou o individual e a performance de cada atleta, nunca focou no massificado. Não é à toa que seus pupilos normalmente voam nas pistas. Ele corre junto, observa, corrige. E entre as tantas histórias que tem o prazer de contar, não poderiam faltar as dos corredores que treinaram com ele, como a Ana Luiza “Animal”, que após viver nas ruas e na marginalidade se tornou uma pessoa produtiva e hoje corre e conquista muitos podiuns sendo um exemplo de superação. Outro corredor que ele tem orgulho de treinar hoje é Darci Leão, 74 anos, uma lenda viva do atletismo brasileiro, recordista brasileiro nos 800m e 1.500m, vencedor 14 vezes o Troféu Brasil, que depois de alguns anos parado voltou a treinar incentivado pelo técnico (essa será uma outra história para contar!).

A lenda do atletismo brasileiro, Darci Leão, 74 anos, voltou a treinar incentivado por WO.

Atualmente Wanderlei Oliveira é coach de alta performance, atleta master, palestrante, colunista do Portal da BAND (Blog do Wanderlei Oliveira) e comentarista do BANDSPORTS.

Confira a entrevista:

Go Running – Quais foram os momentos mais marcantes da corrida em sua vida, como atleta e como técnico?

Wanderlei Oliveira (WO) – O início aos 6 anos de idade em 1965, incentivado e conduzido pelo meu pai Olavo de Oliveira foi o momento mais marcante, pois foi aí que minha vida teve uma direção na qual estou até hoje. Como atleta é o momento atual que estou, próximo aos 60 anos, correndo diariamente desde 1990 com saúde e evoluindo sempre (no atletismo já são 53 anos ininterruptos). Como técnico foi ter a oportunidade de ter iniciado e orientado mais de 11 mil pessoas desde 1979, quando atuava como diretor do departamento infanto-juvenil da Federação Paulista de Atletismo.

 

Go Running – Qual foi seu maior desafio?

WO – A maratona de Nova York. Aos 18 anos eu era um velocista. Queria fazer tudo rápido e ainda achava que estava devagar. Isso era conseqüência do tipo de prova que competia, os 200 e 400 metros rasos. Foi nessa ocasião que resolvi lançar um desafio: projetei a minha primeira maratona para os 32 anos de idade e justamente em Nova York.

Como iniciei na prática do atletismo no ano de 1965, em 1991 já teria 26 anos de treinamento. O suficiente para vencer os 42.195 metros, sem choro.

A preparação para a maratona foi uma lição de vida. Aprendi a planejar, ser persistente, ter paciência e o mais incrível que possa parecer: correr devagar. Foram 210 minutos em movimento constante, ou seja, 105 repetições de 400 metros para 2min00, sem intervalo.

Desde então lá se foram 24 maratonas: 10 vezes a Maratona de Nova York (3h15 em 1999), 7 vezes a Maratona de Paris (3h07 em 2000 – a melhor), 5 vezes a Maratona de Roterdã (3h10 em 2004) e 2 vezes a Maratona de Chicago. O desafio continua!

Go Running – O que a corrida significa para você?

WO – Prazer. Desafio. Disciplina. Motivação

 Go Running – O que mudou no mundo da corrida desde que começou?

WO – A corrida se tornou um esporte popular que atinge todos os níveis sociais e econômicos. Hoje há uma massificação: são milhões de corredores ao redor do mundo. Também houve uma grande evolução na questão da tecnologia dos materiais para a prática do esporte; sem contar os mega eventos que são organizados.

 Go Running – Como avalia hoje o mercado de corridas no Brasil?

WO – Este é um mercado crescente e promissor.

Go Running – Quanto já correu ao longo destes mais de 30 anos de corrida?

WO – São 53 anos de corrida (desde 1965). Nos primeiros 216 dias de 2018 cheguei aos 2.280 km, média diária de 10,5 km. 126.231 km desde 1965. Sem falhar um dia sequer de treino faça sol, chuva, viagens, competições: 28 anos!

A pergunta que muitos me fazem é se nunca fiquei doente. Resposta? Nasci saudável e me mantenho saudável através do esporte e da alimentação.

 Go Running – Entre as provas que já participou, quais você destaca e ainda faz questão de correr?

WO – Competir é saudável e me motiva a me superar. Na Europa sempre corro a Meia Maratona de Lisboa há vários anos. No Brasil, todas as 33 edições dos 10 Km da Tribuna (o atleta vencedor da primeira edição treinava comigo, o Cláudio Ribeiro). Em Santos, foram 11 vezes abaixo dos 40 minutos e 27 vezes abaixo dos 45 minutos. A última edição, em maio, fiz em 44 minutos e 30 segundos (classificando para o pelotão de elite desde o início). Mesmo sendo amigo dos organizadores e da Federação Paulista de Atletismo (podendo sair no VIP  como convidado). ESSE É O MEU DESAFIO!

A corrida dos Bombeiros em sua 23ª. edição é uma prova que surgiu com a CORPORE e hoje organizada pela IGUANA SPORTS que também sempre participo.

A mais especial e importante é a Corrida e Caminhada do GRAACC em sua 18ª. edição que completei em 44 minutos e 56 segundos em maio. Esse evento surgiu com a idéia do Professor Doutor Henrique Lederman, da UNIFESP, que treinou comigo por muitos anos. Em Congresso que participávamos nos Estados Unidos, fizemos uma prova de 5 km beneficente em prol do câncer infantil. Ele gostou da idéia e trouxe para o Brasil. A primeira edição não tinha 100 pessoas e andamos ao redor do Hospital São Paulo. Hoje, são 10 mil corredores no evento!

 

Go Running –  Você corre diariamente – chova ou faça sol….. acompanha seus alunos nos treinos correndo. Como é sua rotina?
WO – Há muitos anos, conheci um mestre indiano que me iniciou na prática do Yoga e também me ensinou um suco antioxidante. Comecei a praticar a “Saudação ao Sol”. Os monges e mestres de yoga sempre preconizaram que a hora mais rica em energia vital, prana, é quando nasce o Sol.

Como acordo diariamente às 4 horas da manhã, tenho o hábito de realizar uma das seqüências da Saudação ao Sol. São doze posturas ou ásanas, que estimulam a respiração com a troca do ar retido nos pulmões durante o sono pelo ar puro da manhã – rico em oxigênio (prana). Os exercícios são energizantes, ativam a circulação e nos deixam forte para o dia-a-dia.

Depois sigo para o treino. Tenho um planejamento que sigo à risca. Os atletas que treinam comigo têm o mesmo nível técnico (no grupo). Os de alta performance, seguem outro planejamento. Cada um com seus objetivos!

 Go Running – Você inspira muita gente. Mas o que te inspira?

WO – Objetivos a médio e longo prazo. Desafios. Foco. Superação. Autoconhecimento!

Go Running – Existe idade para correr?

WO – Estudos de especialistas em medicina esportiva demostram que a corrida é uma atividade física que não tem prazo para iniciar. Existem muitos casos de pessoas que começaram a treinar quando já tinham 50, 60 e até 70 anos, e hoje são capazes de correr uma maratona (42.195 metros).

É preciso somente tomar algumas precauções iniciais que a corrida pode se tornar um grande aliado. No Brasil, temos algumas idéias estranhas sobre a maneira correta de como as pessoas mais “velhas” devem se comportar.

Quando assistimos aos jogos de futebol, é muito comum escutarmos os comentários a respeito dos jogadores que já passaram dos 30 anos: “vejam o vovô”. Dizem que estão velhos e que deveriam pendurar as chuteiras.

Por diferentes motivos, as pessoas com mais de 40 anos são encorajadas a reduzir ou eliminar toda e qualquer atividade física, e que o ideal é quanto menos se mexerem melhor.

Go Running – Mas a orientação é de que alguns cuidados sejam tomados, certo?

WO – Começar a correr não é somente colocar um calção e um tênis nos pés. É muito mais importante, em qualquer idade, seguir alguns cuidados essenciais:
1. É necessário um check-up clínico, ortopédico, dentário e oftalmológico;
2. Avaliação física específica, com eletrocardiograma de esforço (acompanhado por médico especializado em medicina esportiva);
3. Teste de biomecânica dos movimentos, realizado em esteira (para determinar qual o tipo de tênis mais apropriado para a prática da corrida);
4. Teste de capacidade aeróbia (acompanhado por um técnico especializado e com experiência comprovada em corrida de longa distância).

 

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