Fascite Plantar: causas e como tratar

POR RENAN CALORI – Você já sentiu dores na região das solas dos pés para correr? Neste post explicarei com uma abordagem diferente uma patologia comum em corredores. Vamos entrar em detalhes sobre como isso pode ser desencadeado durante a corrida, entender o que acontece sob o ponto de vista do nosso sistema nervoso e como atuar na causa desse problema. Hoje falaremos sobre a fascite plantar.

A fascite plantar, ou fasciopatia plantar, é a causa mais comum de dor na região da planta do pé. Nela acontece um processo degenerativo das fibras da fáscia plantar – também chamada de aponeurose plantar. Este é um tecido conjuntivo que se estende desde o osso do calcanhar e vai até a base dos dedos do pé. A porção central da fáscia é mais espessa e se liga a uma região mais interna do pé, e é nesse local que é muito comum sentirmos dor. Sua função é dar estrutura para o arco do pé e ajudar na absorção e na distribuição da carga que o corpo dá e recebe do chão.

Sentimos essa dor mais próxima ao calcanhar, bem de onde a fáscia sai. A dor é geralmente pior durante a manhã, principalmente nos primeiros passos, e costuma melhorar conforme andamos. Um teste muito usado por profissionais para diagnosticar clinicamente a fascite plantar, e que pode ser feito por você, é esticar o dedão do pé para cima – o chamado Jack´s test. Com isso, a fáscia plantar é alongada e caso a dor aconteça pode ser um caso de fascite plantar.

Existem alguns fatores que podem contribuir para o aparecimento da lesão. Alguns deles são o formato do pé mais plano – o chamado “pé chato” – que dá um aspecto mais rígido ao pé; o formato do pé mais arqueado ou cavo; o índice de massa corpórea (IMC) elevado; o uso de calçados mais rígidos; e a diminuição da amplitude de movimento de flexão do tornozelo. É importante entender que tais fatores de risco podem favorecer o aparecimento da lesão, mas se não houver estímulos que sobrecarreguem a fáscia plantar, dificilmente haverá dor.

Agora vamos falar sobre como a fascite pode surgir durante a corrida. Correr, do ponto de vista do sistema nervoso, é sustentar o peso em uma perna, absorver bem as cargas a cada apoio que fazemos e nos propulsionar para frente. As forças vindas do corpo e do chão têm que ser distribuídas de forma simétrica pelo corpo e “se espalhar” desde o pé e até a bacia. Caso isso não aconteça de forma equilibrada, algum tecido pode ser sobrecarregado e, com a repetição dos movimentos da corrida, gerar a fascite plantar.

Como explicado na primeira coluna (https://gorunning.com.br/corrida-e-dor/), nosso sistema nervoso nos faz CORRER, e ele pode fazer isso de várias formas. Vou dar dois exemplos práticos de desalinhamentos que podem ocorrer: a cada passada apoiar o pé excessivamente voltado para fora ou dar muita pancada no chão. Isso podem sobrecarregar a região da sola do pé.

E por que será que ele faz isso? É aí que entram os profissionais do movimento. Eles vão entender o motivo e chegar à origem do problema, seja ele vindo do próprio pé, do joelho, do quadril, do tronco, etc. Algum motivo tem! Nosso sistema nervoso pode rapidamente aprender um novo jeito de correr. Então, mesmo que você corra desse jeito desde a infância, é possível mudar o jeito da sua corrida!

 A fascite plantar tem tratamento. Aliviar a dor não é tratar a causa do problema, mas amenizar esse problema pode ser útil. Algumas ações simples para isso são:

  • Colocar água em uma garrafinha PET, congelá-la e ir rolando ela na sola do pé;
  • Pisar em uma bola de tênis ou alguma estrutura rígida e circular no pé e ficar rolando a bolinha por cerca de 10 minutos;
  • Alongar a panturrilha e a fáscia plantar, principalmente ao acordar. Sentado, estique o joelho, e com os braços alcance seu pé, colocando o pé e o dedão para cima. Mantenha essa posição por 30 segundos;
  • Ou procurar algum calçado que seja mais confortável. Colocar gel de silicone ou alguma palmilha deformável na sola do pé também pode ajudar.

Contudo, é importante ressaltar que tratar a causa do problema é mais importante do que remediar a dor. Quando a causa da sobrecarga é identificada, a tratamos e mudamos o jeito de correr, deixando a corrida menos lesiva e mais eficiente. Para isso é importante conversar com seu treinador ou entrar em contato com um fisioterapeuta.

E você, já teve algum caso semelhante? Deixe seu comentário!  Fique ligado que no próximo post falaremos sobre aquela dor comum que sentimos na parte de trás do pé e que também tem tratamento: “tendinopatia do tendão calcâneo”.

RENAN CALORI – Formado em fisioterapia pela Universidade de São Paulo (USP), especializado em Fisioterapia no Esporte e Exercício pelo Hospital das Clínicas.  Supervisor da extensão acadêmica Fisioterapia Pró Seleção e da Liga de Fisioterapia Esportiva da USP. Fisioterapeuta no Instituto Branca Esportes e sócio fundador e fisioterapeuta da MOV4- Fisioterapia Esportiva.

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